O encontro dos caminhantes e parte da equipe de apoio, no Aeroporto Salgado Filho, é o primeiro contato do grupo. A grande maioria não se conhece e vem de lugares distintos.
A viagem até o Hermenegildo é longa, mas passar pelo Banhado do Taim e ver toda a sua exuberância é o primeiro presente do percurso. O sol também parece saudar a todos e se põe lentamente como uma bola alaranjada que incendeia o céu.
À noite tivemos nosso primeiro contato com a “cozinha” da Travessia. O creme de moranga com cogumelos, anunciava que a aventura seria estimulada e sustentada por uma farta e diversificada gastronomia. Ao redor da mesa, todas as noites foram apoteóticas, seja pela comida, seja pela companhia. Os lanches de trilha sempre foram uma agradável surpresa, ajudando a recuperar forças para a conclusão do percurso do dia. Como era bom fazer essa pausa na caminhada.
O hotel, pousada e hostels nos quais pernoitamos, cada uma com suas peculiaridades, trouxeram os caminhantes para perto da realidade local, das gentes e suas histórias. Como não se emocionar com o Hotel Miramar, que teima em se manter aberto no meio do nada? Como não se apaixonar pelo hostel Flor de Vida e suas cabanas geodésicas? Como esquecer o delicioso café da manhã, tomado a poucos passos do mar, na Pousada Noctilucas?
O trajeto percorrido tem muitos atrativos, quer seja bela beleza da paisagem ou pelas construções pitorescas que encontramos pelo caminho, que mesclam criatividade e simplicidade. Percebe-se uma sintonia entre o mar e os moradores dos pequenos povoados pelos quais passamos, quase uma poesia. Impossível não constatar que é preciso muito pouco para viver. O contraste com a sociedade de consumo é visível em várias partes e nítida a opção por uma maneira alternativa de viver. É o que nos mostra Punta del Diablo e Cabo Polônio, embora muita coisa tenha mudado, ao longo dos anos, nestes lugares, conforme conta nosso guia Tiago.
Cabo Polônio encerra com chave de ouro a travessia. Com seu farol, lobos e leões marinhos, casinhas espalhadas em um lugarejo onde não se vê carros, nem ruas; não há energia elétrica e quase não existe infraestrutura. Pudera, trata-se de uma reserva ambiental. Tomara que nossos Hermanos saibam preservá-la. Se existe paraíso, creio que deve ser muito parecido com o que vimos ali.
Muitas coisas aconteceram enquanto percorríamos a costa uruguaia. Os dias foram intensos. Dias de trocas e descobertas. Parece que o tempo ganha outra dimensão, passa mais devagar, quando você vê o sol nascer e se por.
Houve perrengues? Claro, fazem parte da aventura. Dores, bolhas, cansaço só fazem ser a chegada mais esperada. E como é bom ver a equipe de apoio nos aguardando, nos recebendo de braços abertos ao final do trajeto do dia. E como é bom chegar todos os dias e saber que você pode ir além do que acredita. Estar na natureza, caminhar com uma mochila de ataque nas costas, compartilhando esse trajeto com outras pessoas e tendo o suporte de uma equipe de apoio maravilhosa, é uma experiência única, profunda, que nos marcam para sempre. Gratidão, essa palavra por vezes banalizada, resume o sentimento que a Travessia Uruguai proporciona.